quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O calendário da Eternidade fixado na teia da aranha

    O calendário, os rituais de passagens e aniversários não me assutam mais. Aprendi com santo Agostinho e com Pascal que o Tempo nunca aceitou se prender às idéias humanas. Observaram que o passado, futuro e, mormente, o presente são furtivos. A vida segue solta, livre.
      O que eu aprendi com o calendário ou com os reveillons? Ninguém deve estar apegado a esta vida leve, frágil se não estiver preparado para vivê-la na eternidade. Parece que o pêndulo, o peso para tamanha "insustentável leveza do ser" se encontra nela. 
      O que surpreende-nos com a eternidade é o fato de que ela não é Tempo. Ela não é presente, passado ou futuro. Não é um tempo inamovível ou imóvel. Prima facie, ela é Deus. Secundariamente. a eternidade é um estado, cujo SER não é privação, mas plenitude e, movimentos não mais são geração e corrupção. O que se É é-se em qualquer tempo, até à eternidade.
      Mas o assutador é entender que a Eternidade não é um estado além, mas aquém. Já pensei que a Eternidade fosse uma realidade somente no Além. Descobri-a na brevidade da flor que murcha e cai. Se esconde no homem idoso que se prepara para o duelo com a morte. Não é algo que os racionais fazem ou criam; a Eternidade existe pelo que são. Sim, pelo que são e nunca pelo que serão ou foram. Se a eternidade fosse realidade por questão temporal, tornaria o homem menos do que o é agora.
      Todavia, face a ela é que os homens encontram o paradoxo de sua própria identidade. Para alguns, a Eternidade é carência, desejo de ser Super-Homem. Li de um que ela é um desejo, reflexo de si mesmo numa tentativa frustrada de ser Deus.Nietzsche riu da eternidade pensada pelos cristãos. ele a intitula: covardia. Schopenhauer disse que ela era a vertente cristã do medo grego; isto é, o VAZIO. 
      Ao que parece, a Eternidade usa o Tempo para levar os homens aos limites de tudo aquilo que se é: nada!  "Afinal, o que é o homem dentro da natureza? Nada em relação ao infinito; tudo em relação ao nada; um ponto intermediário entre tudo e nada. Infinitamente incapaz de compreender os extremos, tanto o fim das coisas como o seu princípio permanecem ocultos num segredo impenetrável, e é-lhe igualmente impossível ver o nada de onde saiu e o infinito que o envolve"  (Blaise Pascal, Le Pensée). 
      Pascal expressou bem estes dois mundo dos Racionais. A idéia de tempo imposta pela sociedade, o Tempo por si, bem como a sua dessemelhança com a Eternidade, levam o homem ao sentimento de impotência. "A eternidade das coisas, em si mesma ou em Deus, deve assombrar a nossa íntima duração. A imobilidade fixa e constante da natureza, em comparação com a transformação contínua que se verifica em nós, deve causar o mesmo efeito" (Blaise Pascal, Le Pensée). 
     A existência humana se assemelha à teia das aranhas. O tempo é o espaço onde a aranha contrói a sua sobrevivência, ao passo que é a própria aranha a Eternidade daquilo que a leva a construir-se. Ora, isto significa que, embora a teia seja um espetáculo a parte, o significado da beleza não está na física ou geometria da teia. O encanto, o sublime está na aranha que, sequer tem a noção daquilo que faz ou da beleza que produz. Fio com fio, espaços simétricos, ponto com ponto que se fixam em bases estáveis... a aranha vive a vida sobre uma engenhosidade a qual sequer se dá conta. Se estético ou não, ela se ocupa com os insetos que alí grudarão.
     A estrutura humana não nos serve de base para a continuidade desta vida. Podemos ser como a aranha: chamar o tempo de eternidade e ignorar o belo da vida numa preocupação instintiva pela presa. Podemos tecer a vida sobre bases sólidas: ponto a ponto no calendário e, assim, construirmos o nosso universo dentro do tempo. Mas a eternidade não respeita o tempo nem a estrutura humana. Ela não se move; não se precipita. 
      A aranha é mais bela do que a teia; mais complexa do que as cadeias de amnoácidos, proteínas produzidas por ela. Todavia, a aranha e a sua teia são de um mesmo material e pertencem-se mutuamente. Se a sua teia é cinco vezes mais forte do que o aço e é produção da própria aranha, isto garante que a aranha seja mais forte do que o aço? Sua teia resiste ao vento ou a uma presa maior?

      O paradoxo da existência não está na teia criada pela aranha; está na aranha e no mundo criado por ela. Ela é mais complexa do que aquilo que ela mesma faz. Assim é o homem: mais complexo do que o tempo (é o autor deste) e inofensivo à Eternidade (quer-lhe ser o autor, mas não tem poder para isto). Esta o confunde, como presa pesada demais para ele e a sua teia. O peso da Presa destrói tanto a engenharia da aranha como torna impotente esta.
                                                                                                  Eliandro Cordeiro

domingo, 25 de dezembro de 2011

O Jesus dos íntimos: uma reflexão em Mc.9:2-8 e Mt.17.1-9..


         Quando se pensa no que significa ter intimidade com Deus é indissolúvel a idéia de oração. Parece-nos que esta e a leitura das Escrituras são as primeiras no tópico “andar com Deus”.
         Contudo, conforme M.L. Jones, ter autoridade para se falar e escrever livros sobre oração é algo complexo. Oração é algo tão íntimo e particular e conta com experiências diversas que é difícil prognosticar o que deve ocorrer, traçar rotas.
         É o que vemos acontecer entre Jesus e os três discípulos escolhidos por Ele neste texto. Pedro, Tiago e João (os mais íntimos de Jesus) experimentam momentos de fraquezas próprias e de grandes revelações divinas.
         Mateus se importa em situar-nos o texto e diz: “seis dias depois destas coisas[...].”Depois do que? Dentre muitas coisas ocorridas, a transfiguração ocorre depois de Jesus ter dito que, (a)- 'alguns' dos discípulos veriam a gloriosa vinda de Cristo e do seu Reino; (b)- depois de expor aos discípulos o caminho do discipulado, isto é, carregar a sua cruz; (c)-depois também de Jesus ter revelado aos discípulos a sua identidade e de sua predição da cruz.
         Assim, não é sem propósito que Cristo os leva ao monte. Depois de revelar-lhes o sofrimento que há de passar, o Senhor tem o intuito de escorar a fé dos discípulos, fortalecendo-a. Por isso, vemos os discípulos, agora, perplexos ante a transfiguração de Jesus. Rosto fulgurante (Dn.10:5,6; Ml.4:1,2;Ap.1:13,14), nuvem, remetem a Moisés no Sinai; o que significa que Jesus é maior do que este.
         Essas coisas acontecem longe do vale, da terra plaina... Por que é tão difícil manter uma vida de intimidade com Deus? Por que para muitos este momento é tão penoso?
         Orar não é privilégio de muitos, embora muitos falem com Deus; orar é privilégio dos íntimos.Não é dom ou ministério, é intimidade. Como toda a intimidade, orar implica em tornar-se cumplice da vontade e do desejo de Deus.
        Talvez, tem-se aqui o porquê existam muitos que creditam que orar é dom, é ministério. Pensar assim, pode dar às consciências fustigadas pela necessidade de Deus, um certo grau de alívio ao seu egoismo.Contudo, não parece razoável crer que orar seja um dom; senão, que é uma obrigação e fato/ato natural da natureza cristã (ISm.12:23;Mt.6:5; 11:25;Lc.6:28;22:40;Cl.1:9;ITss.5:17,25;IITss.3:1;Hb.13:18).
       Tal perspectiva é facilmente vista na vida de Nosso Senhor. Ele tanto ora ao Pai numa manifestação divino/filial, como traz consigo os seus discípulos a esta vida de intimidade com o seu Pai.
       Os Evangelhos nos mostram que, Jesus em todos os momentos em que orou, não o fez como dom ou ministério. Cristo o faz como necessidade encarnacional de Deus, de comunhão, auxílio e prazer. Tais momentos são percebidos em meio à intempéries diversas. Ele dá graças pelo pão, ora pelos enfermos, ora em gratidão pela revelação de Deus Pai aos pequeninos, ora explorando possibilidades, e ora em clamor ao Pai.
       Neste dia no monte, os discípulos aprenderam lições sobre a vida de oração que marcaram as suas vidas. A oração se moveu do âmbito do "simples relacionamento de religião como alívio psico-teológico para o princípio relacional da oração: EU-Deus; Deus-Eu-Tu.
      Este princípio é melhor observado como se segue abaixo:
I- O que Jesus faz aos seus amigos:

1- Leva-os aos lugares mais altos (2):
         Às vezes a dificuldade em se manter uma intimidade com Cristo é que o seu discípulo não quer se separar da terra, do mundo. Quer conviver com Cristo e o barulho dos homens. Observemos que Jesus vem dizendo aos seus acerca Este de sua morte e vinda, mas só no monte ele revelou a sua pré-glorificação.
         Ora, podemos conviver muito bem com o fato de que Cristo morreu por nós e que devemos levar a nossa cruz sem, contudo, deslumbrarmos o seu poder e ressurreição!!

2- Manifesta-se a eles como a ninguém mais (1,3):
         A transfiguração ocorre diante de três discípulos. Vêem o rosto de um homem cansado eclodir em o rosto do sol, suas roupas empalidecida pelo tempo e pó se transformarem em luz, sem sombra, pura!
         Os íntimos de Jesus o vêem como poucos vêem. Ele não é só um homem que sujou os seus pés fazendo o bem, curando e pregando. Não é só o Jesus da história; é o Filho de Deus!
3- Compartilha-lhes segredos (5):
         Ed René Kivitz: “ Ser íntimo de Deus não é aquele que é capaz de contar-lhe segredo, mas aquele a quem Deus compartilha segredos.” É o que vemos aqui. Pedro, Tiago e João, provavelmente, ouviram Jesus conversar com Moisés e Elias acerca do êxodo, ou saída de Jesus, o que Ele havia de realizar em Jerusalém. Conforme Gundry, “o verbo “cumprir” que a morte de Jesus era algo predeterminado, não sendo fruto de algum acidente.”

II- O princípio relacional da oração na vida de Jesus [ Eu e Deus, Eu+Deus; Deus+Eu+o Outro]:
 O princípio se traduz como pergunta: O que os íntimos de Jesus devem fazer-lhe?
         Ser íntimo de Jesus é, também, cumprir deveres, pois intimidade é cumplicidade:
1- Ouví-lO (7):
         O voz de Deus no monte deixa claro aos discípulos que  aquele que quer ser íntimo de Deus deve ouvir a Jesus, ouvir o que Ele diz.
         Ouvir ao Filho corresponde a obedecê-lo. Jesus vinha declarando aos discípulos o fim de sua obra na terra e o dever que esses teriam de carregar a sua cruz até o fim. Assim, os discípulos deveriam obedecer aos ensinos do mestre e pô-los em prática. Ora, ouví-lo é ordem do próprio Deus!  É indispensável àqueles que querem ter intimidade com Deus aprender a ouvir, e ouvir a Jesus. Falar com Jesus é bom, mas ouví-lo requer paz e paciência. Silêncio aos anseios da alma ante os joelhos dobrados em oração. É quando nossos coroações despejam desabafos e pedidos que devemos ouví-lo.
         A ordem de Deus nos chama à responsabilidade quando descermos do monte. A vida cristã não é feita só de contemplação da beleza da face divina. Ela é revelada, também, mediante rostos de almas obedientes a Deus!
2- Fixar os olhos somente em Jesus (8):
         O que isto significou para os três discípulos? Moisés e Elias eram as duas mais importantes personagens do mundo hebreu. Os dois conversam com Jesus e, dentre esta conversa uma voz diz que, dos três, quem deve ser ouvido é tão só o Filho de Deus, isto é, Jesus. Os dois, Moisés e Elias somem juntamente com a nuvem, mas Cristo continua lá, firme, deslumbrante! Os discípulos deveriam entender que, embora, Moisés e Elias indicassem a Lei e os profetas, Jesus era o cumprimento de ambos (Dt.18:15); é superior a qualquer homem por mais importante que possam ser. É em Cristo que a vontade final e eterna de Deus se realiza!
         Por que é tão difícil ter intimidade com Deus? Muitas vezes tiramos os nossos olhos de Jesus e os fixamos naqueles que apenas contribuem, de alguma forma, para a realização da vontade de Deus, mas nem sempre satisfazem a Deus com sua inteira vida. Quando olhamos a Jesus descobrimos que é mais fácil andar neste mundo vil (Hb. 12:1,2).
      3- Despedir-se do monte (lugar), mas não de Deus (4,9):
         Pedro tem de aprender que não se fica para sempre no monte. Se lá em cima Cristo se revela a eles, lá embaixo, Ele se revela através deles (Jo.15:14,15). Pedro parece querer uma religião de conforto, moleza, um 'eterno encontro com Deus'. Esta é a religião do êxtase, do místico, da emoção, mas desprovida de razão e entendimento.  
         No entanto, na vida daquele que anda com Jesus, há vales, demônios e desafios. Pedro tem de descer do monte, mas não o desce sem que Cristo desça com eles! Cristo não fica com Moisés e Elias, fica com os discípulos! Pedro quer fazer cabanas para si, para Jesus e os dois homens, mas é repelido. Ele quer colocar o legislador e o profeta no mesmo nível que seu mestre, como se fossem iguais. Jesus o repele imediatamente!
         Os discípulos que ficaram ao pé do monte descobriram a dificuldade de tentar realizar algo sem Jesus: não conseguem expelir o demônio de um garoto. Mateus ao seguir com a narrativa até a história do garoto endemoninhado contrasta a pessoa de Cristo com os seus discípulos incapazes. Que desgraça é o ser humano sem fé em Deus!Quer no monte ou nos vales, Jesus deve estar sempre conosco. Para isto não vale cabanas ou casinhas, Ele deve ser livre!! É Cristo que faz o sagrado e não o sagrado quem atrai a Jesus.

Conclusão:
         Os discípulos tiveram uma experiência ímpar com Jesus. Em Mc. 9, tal experiência é cheia de fraquezas dos discípulos. Há um contraste existente entre a religião dos discípulos e a vida espiritual de Jesus. A forma e a necessidade com que ora, a maneira com a qual se comporta quando acaba de ser a personagem central desta manifestação divina. Ele conversa com os discípulos na descida do mundo como aquele que continua na presença de Deus, sem contudo que esta presença modifique a sua vida, pois tal vida é perfeita. Para Jesus, monte e vales são ambientes onde se podem cultuar a Deus.
         Óh, quanto temos que aprender com o Senhor Jesus acerca de intimidade com Deus! Temos Nele o exemplo de uma religião que não se afasta da realidade, mesmo quando sobe aos altos montes e vê a Deus!
         Ele desce ao encontro de seus discípulos em apuros, volta a libertar as almas aprisionadas pelo diabo. Há muito o que fazer até a sua morte na cruz, quando, ele sabe, ressuscitará com aquele corpo da transfiguração. Jesus nos ensina a sermos íntimos de Deus no monte ou no vale, na paz ou no barulho. Basta-nos ouví-lO e não tirarmos os olhos Dele!!

                                                                                                                                   Eliandro da Costa Cordeiro, SPR-Cne.

Davi, Absalão e Michael Jackson :Uma leitura anacrônica de II Sm. 13- 18.

                Não pensei que a morte do “rei do pop”, Michael Jackson, pudesse mexer comigo. Expurguei de minha razão todo o sensacionalismo da mídia a fim de poder conhecer e ler, ainda que embaçada e distante, a história do pobre homem rico, cheio de amigos e solitário, com síndrome de 'Peter Pan' (o menino que não envelhecia).

Entendendo a história bíblica:
              A História de Michael oportuniza ao crente a lembrança bíblica acerca da presença de um pai que anda nos caminhos do Senhor. A lembrança bíblica que não escondeu a família do rei Davi.
Ora, a Bíblia Sagrada não esconde os desajustes e faltas de profetas, reis e heróis. Aliás, os heróis bíblicos nos lembram que só os são devido a graça de Deus que os ajuda a superar as tragédias, falhas e pecados na vida. Não é admirável que nos aproximemos de Davi exatamente quando ele, nas narrativas bíblicas, depois de pecar, se abre e se derrama diante de Deus?As Escrituras apontam que Davi foi um ótimo rei, ótimo estrategista, mas um pai cujo exemplo deixou a desejar.  Ele teve que colher os frutos resultantes dos pecados que cometeu.
Talvez, o que mais lhe adoeceu o coração tenha sido a morte de seu terceiro filho, Absalão. Este se revolta quando o seu meio irmão, Amnom, violenta a irmã Tamar. Absalão espera uma atitude de seu pai, o rei Davi, mas este se cala e nada faz para disciplinar o seu filho primogênito. Absalão oferece um banquete em casa e convida os familiares, chama o pai, mas este se ausenta. Absalão pede a presença do meio irmão, o pai concede. Horas depois, o pai recebe a notícia do fratricídio: Absalão matou Amnom. Se por interesse de substituí-lo no trono, não se sabe, mas a desgraça está feita na casa de Davi. Absalão foge para a casa de seu avô (II Sm. 13:37) e lá fica por três anos!
Depois destes anos, Davi recebe o filho de volta, mas nada faz para se reaproximarem, senão, dar-lhe um “beijinho” e mandá-lo embora. A partir de então, vê-se um Absalão revoltado, obsecado por poder cujo pai está longe de lhe ser modelo, mas sim, um rei, cujo ser é capaz de causar ao jovem rebelde aversão.
            Longe de centelhar semelhanças entre Absalão e Michael Jackson, Davi e os Jacksons, ambas as famílias chamam-nos a atenção para a realidade de que o pai é o elemento fundamental na vida do filho. Seja o pai sensato ou não, prudente ou não, temente a Deus ou não, não está excluso de servir de referencial aos filhos. Mas que tipo de exemplo pode-se anacronizar entre a família de Davi e a dos Jacksons?
O que Deus nos quer ensinar?
Ele bem pode nos ensinar que, Excesso de disciplina e rigidez sem manifestação de 'amor presente' ao invés de gerar maturidade, valores, caráter e sucesso pessoal na vida do filho, podem produzir afecções negativas e  perda de referencial para a formação de um homem maduro e seguro.
         Há algumas lições presentes entre ambos, ainda que encontrados em caminhos tão diversos. Podem-se elencar algumas, a fim de evitarmos os erros em nossos lares:

          1- Ninguém disciplina filhos afastando-os de si, mas aproximando e exortando-os com amor (II Sm. 13. 37- , 14.1ss; 14:24;  I Sm. 2.25; I Rs 1:6;Ml. 4:6; Cl.3:21; I Jo. 2:13):

            Absalão passa três anos com os avós e, quando retorna para casa ( devido aos esforços de Joabe, amigo de seu pai), o melhor que o seu pai lhe pode fazer, é beijar-lhe a face.  O rei demonstra rigidez perante o rapaz, mas rigidez não é disciplina. Absalão está perto de Davi, mas não junto ao pai. Seria como dizer: “more aqui, mas não converse comigo!” (II Sm. 14. 24,28- 33) .
            Absalão acha a distância do pai punição pesada demais, talvez ( II Sm. 14:33). O rapaz diz preferir a morte a não falar com o pai!  Absalão não tinha pai. Pai ausente e rígido não é pai; é delegado. A ausência de Davi junto ao filho permitiu que este se tornasse, ao invés de amigo, um rival (Êx. 20.12). 
Mas, por que este episódio lembra a Michael Jackson? O cantor disse que o seu pai mal parava em casa e, quando estava, apenas exigia aos filhos que ensaiassem incansavelmente os passos de danças e as músicas para os, ainda, pequenos shows. O pai de Michael Jackson era violento e o batia no rosto todos os dias dizendo: “você é feio como um macaco”.  Michael Jackson confessou em entrevista que sentia náuseas ao ver o pai. Não. Davi nunca denegriu o filho Absalão. Nunca exigiu ensaios, nunca lhe improperou maldições. Aliás, nunca disse nada. Davi era ocupado demais para gastar tempo com os filhos. Davi era rei e os seus filhos... eram só filhos!
            Contudo, se anteciparmos o drama familiar de Davi, descobriremos que um pai peca quando não exerce o papel o qual deve realizar dentro de casa.

2- O pai não é o rei do lar; é o sacerdote (II Sm. 14:25 ss; Jó 1:1-22; Ef.5, 6):
            Um filho não pode fazer cerimônia diante do seu pai. Contudo, Absalão quando se apresenta a Davi no palácio, parece estar diante de um rei e não diante de seu pai. Onde está o coração do homem que é considerado um homem segundo o coração de Deus?  É triste quando um filho não se sente à vontade com seu pai, antes, vê nele alguém cuja posição e caráter são inatingíveis. Davi pôs o seu trono alto demais para Absalão. O seu colo está alto demais para o filho. Talvez, isso estimulou o filho a lutar doentemente por ele.  O afago que recebeu do pai é o “beijinho, beijinho, bye bye”!O rei mais uma vez adia a solução do problema com o filho. Não há diálogo. Absalão está perante o rei de Israel. Aquele que derrubou o Gigante Golias, mas que não consegue derrubar a indiferença e a parede que existe entre ele e o seu filho Absalão.
Caio Fábio, num de seus livros, lembra que “Absalão tinha tudo! Mas, só o que ele queria era um pai. Não era um rei que Absalão queria, mas um pai. Não era de um general invencível de que Absalão carecia, mas de um pai. Não era de um homem que resolvia os problemas do mundo de que Absalão necessitava, mas de um pai que fosse capaz de ouvir uma angústia do filho.”
Nem sempre os filhos procurarão nos pais a imagem de heróis. Às vezes, tudo o que querem é que eles sejam homens, gente que sofre, sente dor, mas que, os amem.
            A cena que a Bíblia apresenta no palácio real, remonta uma das declarações de Michael Jackson acerca de seu relacionamento familiar. Segundo ele, nunca pôde se assentar à mesa com os pais, tomar leite com biscoitos e dormir ouvindo histórias contadas pelos pais. Não é uma declaração romântica desse cantor; é carência, frustração. Quando o garoto Michael se viu “adulto” e capaz de “recuperar o tempo perdido”, abandonou a vida adulta para viver a infância perdida. Segundo ele, o mundo não entendeu (e o acusou de pedófilo).
            Novamente, que aproximação pode haver entre Absalão e Jackson? O que um viveu no palácio e outro em Gary, Indiana? Viveram a indiferença dos pais.

3- A atitude de indiferença do pai pode criar no filho uma referência invertida de poder e realização na vida (II Sm. 15.1ss):
            Depois de os “beijinhos” recebidos do pai, Absalão sai resoluto em roubar-lhe o trono. Quando ele sai da presença de Davi, parece entender que não esteve diante do pai, mas de um rei, de um guerreiro, um rival!!  Fato é que, a vara que Davi poupou a Amnom, vira espada nas mãos de Absalão (Pv. 13:24; 22:15; 23:14; 29:15).
            Davi cria um filho com a capacidade de nutrir-lhe aversão. O psicanalista Freud chamaria esta aversão de um extremo complexo de Édipo (mas sem a mãe na disputa!).  Absalão não tem chances de ver virtudes no pai, e agora, de longe, como numa visão panorâmica de uma grande cidade vista do alto, só pode ver as fraquezas do pai (II Sm: 15). Absalão quer ser rei a qualquer custo, mesmo que o rei a ser destituído seja o seu próprio pai.  Por que isso acontece com o filho do rei?
Ora, se um pai prioriza mais o reino, o trabalho, do que a família, soará aos filhos que este reino é mais valioso do que a sua casa, bem como, as relações pessoais. Davi não desceu do trono para punir Amnom, não desceu do trono para buscar Tamar na casa de Absalão depois dela ter sido humilhada por Amnom (II Sm. 13:20-22). Absalão passa a correr numa desenfreada busca por poder achando que isso é tudo na vida. É uma imagem invertida de paternidade e poder, pois, quem seria capaz de procurar matar o próprio pai?
Novamente, em que se compara Michael Jackson a Absalão?  Todos os castigos infringidos no cantor, pelo pai, quando errava um passe no show, todos os dias em que o pai chegava em casa, tarde do trabalho e, ao invés dos carinhos, o que se tinha eram socos e ensaios incansáveis em busca de perfeição, não é um demonstrativo de que deve haver algo na vida mais importante do que o lar ou o caráter?  
Quando Michael cresce, se torna rico e independente, abandona a família ( Ec. 5.8-20;I Tm.5.4,8), cria resistência ao pai e procura a todo o custo ter realização na vida, ora se portando como eterna criança, ora fazendo uso do poder que herdou da fama (Ec.7.1;9.1ss).
À semelhança de Absalão, Michael Jackson cria uma 'referência invertida' de pai e, conseqüentemente, projeta no seu mundo o mundo de seu pai. Um mundo onde só se respeita a reis, e aparências (II Sm 14:25-27). Não é por nada que se importa tanto em mudar a sua cor negra e seu “nariz largo” e, há que diga que, fez mais de cinqüenta plásticas faciais sob pena de dores e usos de remédios para amenizá-las (Jr.13.23).
            Não se quer forçar demais a comparação entre estas duas personagens, mas, tão somente, apontar o papel de um pai na vida do filho. Davi descobriu tarde demais que nenhum sucesso na vida compensa o fracasso no lar. O rei ganha a batalha, mas perde o filho. Não pôde salvar-se do próprio filho. Quando soube da morte de Absalão chorou amargamente dizendo “Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão [...]” (II Sm. 18:33). Pena o moço nunca ter ouvido isso em vida! Pena nunca ter lembrado, em vida, que Davi lhe era pai, antes de ser rei! Mas uma vez, recorda-se, também, a ausência de palavras de carinhos paternos ao cantor Michael Jackson. Agora, quando morto (se sincero, não se sabe), o pai jura-lhe amor e admiração. Tarde demais (Ec.3.2,4,8)!
            Absalão e Michael Jackson entenderam que, na vida, a única maneira de não serem esquecidos é imortalizando as suas imagens em 'pedras expostas' à admiração dos homens (II Sm.18.18) que semelhantes a eles, cultivam os mesmos amores pelo poder ( II Sm. 14. 25; 15. 1-6). Absalão constrói um túmulo ainda em vida e Michael constrói Neverland, plásticas e músicas as quais procurou imortalizar na memória dos fãs ( Pv.22.1).
            Recusaram-se a crescer e morreram velhos em corpos de moços. Absalão é o menino que não recebeu atenção devida do pai e Michael é o garoto que sofreu com a violência e indiferença do pai. Ambos se assemelham na oportunidade que a vida lhes dá (Ec.9.1-10): crescem, exercem influência e, a seu modo, podem mostrar para o pai que venceram (vitória inglória).
            Talvez seja exagerada a aproximação de duas personagens tão distantes no tempo, mas não se pode negar que ambas revelam o que ocorrem em muitos lares atualmente. A Bíblia nos oferece inúmeras recomendações acerca do cuidado que os pais devem ter na criação dos filhos.  Os pais estão diretamente ligados à formação pessoal, psicológica e emocional da família. Paulo apresenta que a formação dos filhos depende da ação prudente e compreensiva dos pais para a construção difícil e confusa, ainda, dos filhos. Estes devem ser respeitados em suas etapas e imaturidade (Ef. 5 -6). Não lhes exigindo nada que os próprios pais não sejam diante de Deus (Sl. 127, 128; At. 10.2; I Tm.3.4). Se os filhos devem obedecer aos pais no Senhor, estes devem admoestar os filhos na admoestação do Senhor (Ef. 6.1-4).  A tarefa de disciplinar, educar e ensinar as Escrituras é impreterivelmente delegada aos pais (Dt.6.6-9;8.5;Pv.1.8; 23.13; Ef.6.4; I. Tm 3.4; II Tm.1.5).
            As mortes de Absalão e Jackson nos fazem voltar os olhos para dentro de nossas casas e refletirmos que tipo de pais temos sido. Será que os valores que nossos filhos desejam de nós é a mesada? A herança? Memoriais erguidos em mármores frios de um relacionamento familiar morto?   Somos pais amorosos ou reis déspotas sobre os nossos filhos?  Ensinou seu filho a pedir perdão quando, humildemente, pediu-lhes perdão mostrando que os pais também erram? 
Não estamos incólumes das tragédias da vida (Mt. 7:24-27), mas estamos salvos de esboroarmos de culpas. O trono de Davi, o fato de ser homem segundo o coração de Deus, o dinheiro (Ec.3.9;4.6,8) e fama de Michael Jackson, não os livraram da tragédia familiar. Não devíamos nós, jogar mais 'bolinhas de gudes' com nossos filhos, beijá-los e mantê-los bem perto de nós enquanto podemos abraçá-los e cabem em nossos abraços?Tudo o que podemos fazer pelos filhos façamos agora! O amor presente, a disciplina e o respeito não custam dinheiro. No entanto, valem mais do que ele (II Sm.18.33).

Para você refletir:
Como devo aplicar esta Palavra à minha vida?
1- Quanto tempo faz que você não ora com o filho ou realiza um culto doméstico?
2- Qual história bíblica o seu filho mais gosta de lhe ouvir contar para ele?
3- Qual foi a última vez em que brincou ou bateu um “papo cabeça” com o filho?
4- Como você relaciona Deus e família?
5- Busca melhorar todos os dias e sente-se triste quando percebe falhas e observa erros no seu relacionamento com o lar?
6- O que prioriza na vida? Seu filho deseja o mesmo?


Sola Scripturae
Eliandro da Costa Cordeiro SPR-Cne

sábado, 24 de dezembro de 2011

Sola Scriptura: A Bíblia como elemento fundante da Reforma Protestante.


Só a Graça, Só a fé, só Cristo, só as Escrituras, só a Deus Glória. Estes são o lema da Reforma Protestante. Lutero e os demais reformadores tornam as Escrituras elemento fundamental contra qualquer deturpação do conceito soteriológico e prático da Religião Cristã. A Escritura insurge importante, haja vista que, nela as quatro outras sentenças se justificam e tornam-se fundamentais na distinção entre a fé protestante e os ideais humanos. A Escritura Sagrada revelou-se a haste onde a Reforma Protestante fincou a bandeira da Verdade sobre o monte da glória humana.

Embora a Reforma Protestante seja complexa e heterogênea e seu projeto vá além da reforma doutrinária da Igreja, não se nega tratar, mormente, de uma volta às Escrituras Sagradas. O movimento reformista exigia a existência de uma fé sem “muletas espirituais”, confiança incondicional à total graça de Deus alcançada unicamente por meio da graça de Cristo, cuja ação humilhava a arrogância humana (ICor.1,2,3). Uma fé que em qualquer esfera de vida glorificasse a Deus (Ef.4:1;Col 3:12ss;I Ts.2:12;II Ts.1:10; IPe.1:15).
Com o 'sola Scriptura' os reformadores afirmavam que as Escrituras eram a autoridade final e suficiente da Revelação de Deus aos homens. Não mais Igreja ou Tradição dos Pais da Igreja somam autoridade, mas só as Escrituras.


Em síntese, isto põe qualquer homem ao alcance da interpretação bíblica, ou seja, o 'princípio do livre exame' do texto sagrado. Os reformadores defendiam que todos o cristão é livre para, sob orientação do Espírito Santo, examinar a Escritura divina, bem como interpretá-la independente de uma autoridade eclesial externa (Jo.16:12,13; At. 17:11,12).


À preterir os pré-reformadores e firmar atenção em Lutero, sua biografia e teologia (esta, percebida em seus sermões) vê-se a profunda vivência deste homem com as Escrituras. Lutero sabia que sucesso algum obteria se não andasse sobre a Palavra de Deus (Jos. 1:7,8).[1]

I- Elenca-se, a partir de agora, aspectos importantes da Teologia Bíblica de Lutero que sustentou a Reforma e cuja a aplicação ainda é relevante:

1- A influência de Agostinho de Hipona na vida de Lutero:
Se Agostinho se converte a Cristo depois de confrontado com a leitura de Rm.13:13-14, Lutero recorda o Bispo ao se converter depois de 'perseguido' pelo medo da ira de Deus registrada em Rm.1:17. O medo se desfaz depois de descobrir que a Justiça de Deus neste texto é positiva e não negativa (Rm.1:18). Esta justiça é alcançada nos méritos de Cristo e não, conforme aprendera, através de esforços humanos (Rm.3:21-26;II Cor.5:18;Ef. 2:1-10).


Segundo Hagglund, as doutrinas da graça ensinadas pelos escolásticos não satisfaziam ao anseio de Lutero. Essas doutrinas ensinavam que “se alguém fizesse tudo o que estava a seu alcance, usando seus próprios poderes, Deus então também lhe daria graça” (Is.64:6; Rm.9:16).[2] Lutero sabia que o homem, por seus próprios poderes não podia, segundo a sua própria vontade, amar a Deus( Mc.7:6,18,21-23). Os dons naturais dos homens estam depravados (Rm. 3:12;7:18,19;Ef.2:1,5)!


Depois de reconciliado com o texto de Rm. 1:17, Lutero apóia-se na teologia de Agostinho e opõe-se à posição escolástica acerca da justificação, pecado e graça fundamentados em pressupostos pelagianos. Lutero afirmava que:


2- O homem não tem capacidade de amar a Deus com suas próprias forças:
É característico do homem natural amar a si mesmo e ao mundo e opor-se a Deus (Jo.17:14,Ef.2:1-3;Tg.4:4;I Jo.2:15-17,3:1;4:5;5:19). É necessário, primeiro, receber a graça de Cristo para que as afecções de amor inclinem a vontade humana a fim de amar corretamente a Deus. Em Cristo, a graça precede a vontade, o que resultará no amor que Deus aceitará da parte do homem (Ef.2:1ss). Aceitar que o homem, em sua natureza, tem a capacidade de amar ou se preparar para a graça é tornar o Evangelho nulo e vão, acreditava Lutero (Rm.1:19-32;3:23).Para alguém fazer algo de bom, deve se tornar bom primeiro (Jr.13:23).Mas,“O homem está completamente depravado”, dizia Lutero.[3]


3- Justificação- conceito principal da teologia de Lutero:
A justificação não é ato recebido a partir daquilo que o homem faz ou busca, mas por tudo o quanto Cristo realizou na cruz (Rm.3:4,20,22,24,26;8:33; II Cor.5:21;Gl.2:16;3:8,11).


Logo, a justiça descrita em Rm. não é a justiça que julga e faz exigências, mas a justiça alcançada pela graça. Esta justiça se fundamenta na Pessoa de Cristo. É por isso que Lutero salienta que o homem em Cristo não se torna justo; antes, é declarado justo (Rm.3:24,28). Deus age com a “justiça supra excelente”; isto é, aquela justiça que exige do próprio Deus uma ação que vai além da justiça comum (Rm.25,26). Trata-se daquela justiça que a Sua Asseidade lhe exige.
Assim, a fonte da salvação encontra-se não no poder exercido arbitrariamente por Deus, mas no sofrimento substitutivo de Cristo e no perfeito mérito que Ele conquistou (Rm.5:1,8,11;IICor. 5:15,18,19;Col.1:20;Hb.7:24-27).


4- A Antropologia teológica de Lutero:
O conceito de homem para Lutero segue intrínseco à doutrina da justificação. Lutero foge à característica medieval quanto a composição do homem. Para ele, não é questão de dicotomia ou tricotomia; o homem é um todo (totus homo). Qualquer tentativa distintiva da identidade antropológica é uma descaracterização do “ser- Homem” (Gn.2:7). Adão é criado com um corpo material/espiritual. Qualquer tentativa de escanchá-lo é desfigurar aquilo que o homem nasceu para ser (Mc.12:30).


Consequentemente, com a não-distinção dualista do homem, Lutero pode lançar luzes à facetas de sua teologia característica:
(A)- O pecado original: Não atingiu o espírito ou o corpo do homem, mas o Ser como um todo. Trata-se de uma corrupção concreta que imprime a sua marca no homem inteiro (Rm.3:9-18;7:17-25;IJo.1:8).


Por se tratar do homem como um todo, o mal não é apenas a ação realizada por Adão ao comer do fruto que Deus proibira no Éden. Ações de pecado são o reflexo daquilo em que o homem se tornou, essencialmente um ser-pecado. Adão pecara anterior ao comer do fruto. Comê-lo foi a sua exteriorização (Gn:3:6;Tg.1:15).


Deste modo, o homem não é julgado só pelo que pratica, mas por aquilo que agora é. O pecado tornou-se parte constitutiva do Ser (Sl.51:5). Tal pecado (corruptio naturae) abandonará o homem somente quando este baixar à sepultura ( Fil. 3:3:12-16,20-21).


(B)- Depravação Total: a corrupção natural herdada no Éden fora capaz de apagar a imagem de Deus ( imago Dei) no homem:
Lutero considerava a Imago Dei não como capacidade racional ou talentos que caracterizam o homem como imagem de Deus. Para ele,a Imago Dei é a justiça original, perfeição e santidade originais no homem, os quais, depois da queda, não mais o remontam como tal. Isto infere, pois, um homem, agora, sem a identidade do Ser (Gn.3:7ss).

O reformador reconhecia que Agostinho utilizara da classificação aristotélica, segundo a qual a imagem de Deus no homem representava as faculdades da alma; i.é: memória, intelecto e vontade. Tal tríade, elementar na constituição do homem após a queda, era a imagem de sua total depravação. Esta concepção 'pessimista' do homem focaliza a total dependência da raça humana na suficiência de Cristo (IICor.3:5;Jd.24).


(C)- Cristo torna-se vital na recuperação do depravado homem: Cristo cumpre em si a justiça de Deus. Nele o homem é declarado justo. Do contrário, como o homem poderia se livrar daquilo cuja a natureza “tornara hereditário (a natureza pecaminosa) nele (Jr.13:23;Rm.5:12ss)? Lutero dizia que os crentes tem gradualmente diminuída a sua pecaminosidade porque vive sua nova vida no Espírito (Rm.5:18,19;8:29; Ef.4:13;5:27;Col.1:28).


Contudo, os fiéis são simultâneamente pecadores e justos (Rm6:6,11-14;Ef.4:22).[4] Pecadores devido a sua natureza humana corrompida e, justos,[5] devido os méritos de Cristo ao satisfazer em si a justiça de Deus. Conforme Hagglund, “pecado e justiça são portanto atributos perpétuos no homem inteiro.”[6]

5- A competência da alma ou o sacerdócio universal do crente:
Depois de ter sido declarado justo em Cristo, o cristão vê a sua vida aceita por Deus (Hb.9:26,28). Cristo garante o acesso do mais novo filho adotivo perante o Seu Pai (Rm.8: 16,17;9:8; Gl.3:26;4:7;Hb.2:13,14;10:19-23;12:7,8;I Jo.3:1,2).


Assim, o crente pode, por si mesmo, oferecer culto aceitável a Deus e viver em comunhão (Rm.12:1; Hb.13:15;IPe.2:15), não mais com um Deus que exige mediante a Lei aquilo que homem algum lhe pode oferecer: a auto-justificação (Hb.9:1ss). Devido à satisfação divina no Filho (Is.53:11;Mt.3:17;12:18; IIPe.1:17), o crente é o seu próprio sacerdote e Cristo o único intermediário entre Deus e o homem pecador (Ef.3:12; Hb.10:19;I Pe.2:5,9;Ap.1:5,6).


6- Razão e Fé: o caráter dialético e paradoxal existente no conhecimento da Revelação de Deus para Lutero:
Não se pode negar que a Reforma, a partir de Lutero, abriu caminho não só para uma vida de transformações morais e espirituais. A Reforma também grassou a Ciência. Richard Hopkins afirma que a Ciência (e o ceticismo) viu na Reforma, livre do domínio da Igreja Romana, a liberdade para o seu progresso. Como reagir a este horizonte novo e 'ameaçador' à fé cristã? Lutero parece ter adotado a interpretação de Agostinho acerca da Razão e Fé: “crer para entender.”


Isto significa que qualquer forma de conhecimento ou sabedoria são dádivas divinas (Tg.1:17). Embora critique Aristóteles e outros filósofos, Lutero não demonstrara ter desprezado o que de bom aprendera com as suas leituras (ITs.5:21). A sua noção de conhecimento de Deus (absconditus e revelatus), além de uma fundamentação bíblica, é agostiniana, bem como, corroborada na filosofia de Guilherme de Occam e dos nominalistas. Para Occam, a Fé não ajuda a Razão na compreensão dos elementos naturais, mas é útil somente para o conhecimento da natureza de Deus.


Foi com as Escrituras, antes de tudo, e este postulado filosófico que Lutero discutiu com Erasmo de Roterdan a Revelação de Deus mediante as Escrituras, tão somente.
Erasmo defendia a possibilidade de a razão humana poder compreender a Deus sem o auxílio de uma Revelação. Contrapartida, Lutero advogava que, devido o pecado, a perda da imago Dei torna a compreensão de Deus impossível. Enquanto o conhecimento da Fé se baseava na Autoridade, o conhecimento da Razão estava obscurecido pela corrupção natural, herança adâmica. Assim, somente através da fé realizada no homem e, não pelo homem, a Razão ocuparia o seu derradeiro lugar.


7- As Escrituras para Lutero:
Conforme já observado, todo o pensamento de Lutero parte do pressuposto teocêntrico e do princípio da Bíblia como a autoridade única . Fora com este pensamento que a Reforma logrou êxito.

O que havia de novo na atitude de Lutero face à Escritura era especialmente sua percepção mais profunda com respeito ao seu conteúdo. Além disso, Lutero reconhecia que a autoridade da Palavra era válida mesmo quando a tradição divergia dela; que a sua autoridade mantinha cativa a sua consciência.[7]

7.1- Pode-se destacar dois aspectos importantes na interpretação de Lutero quanto a Sagrada Escritura:
(A)- Cristo é o Centro da Bíblia:
Se o Antigo Testamento é a sombra do Novo, não encontrar Cristo no A.T. é ver somente a escuridão. Lutero considerava que o Antigo Testamento era testemunha direta de Cristo, e não que continha apenas algumas profecias a seu respeito. Faz sentido, pois para o reformador, pois o
padrão e a medida de toda a verdade é o Evangelho de Jesus Cristo, que é, antes de tudo, uma mensagem falada- a Palavra de Deus- e não “uma mensagem morta”.”


Lutero não se limitou a equiparar a Palavra de Deus com a Bíblia. Contudo, não relegou, tampouco, a Bíblia a uma categoria inferior [...]. Para Lutero a Bíblia é o berço no qual Cristo se encontra. Mas a Bíblia não é Deus, nem Jesus Cristo e nem o Evangelho. Estes estão acima do livro e o valor do livro encontra-se exclusivamente no fato de Deus usá-lo para instruir seu povo. Mas ele realmente o usa como nenhum outro livro e, por isso, sua autoridade está acima de todas as autoridades humanas.”[8]

O segundo aspecto importante na interpretação de Lutero acerca da Palavra de Deus é sua exigência hermenêutica, ou seja:
(B)- A norma interpretativa das Escrituras:
A fim de evitar qualquer contraponto interpretativo à questão de Deus e Cristo estarem acima da Bíblia, Lutero difere o termo “Palavra Interna” (interpretação legalista da Bíblia) daquilo que chama de “Norma externa obrigatória”.[9]


Alguns cristãos alegavam possuir a “Palavra Interna” como norma da interpretação da Bíblia. Lutero discordava, uma vez que nenhuma particularidade bíblica pode ser interpretada a partir do próprio leitor.[10]Assim, faz-se necessário uma petição de princípio como 'norma externa'. Esta é aquela condição da leitura contextual/histórica e gramatical, e não alegórica das Sagradas Escrituras.[11]


As más interpretações bíblicas da época fora o risco que o reformador teve que suportar ao evocar o livre exame das Escrituras. Se a Bíblia é a Palavra de Deus, escrita para o encorajamento e instrução do povo de Deus, todo o cristão tem o direito e o dever de lê-la e estudá-la.


7.2- Para evitar más interpretações bíblicas, Lutero estabelece dois Princípios hermenêuticos delimitadores na leitura bíblica:
(A)- Insiste no princípio da analogia da Escritura; i,é, a Bíblia interpreta-se a si mesma:
Este princípio impede qualquer interpretação particular daqueles ponto obscuros da Bíblia Sagrada, o que faz com que o leitor espere paciente pelo seu próprio elucidar;
(B)- O“livre exame” das Escrituras não implica em livres interpretações subjetivas ou baseadas em experiências místicas: A analogia da Bíblia é vital para apontar a sua autoridade como o único fundamento da fé cristã.


Objetivamos se a Reforma teve como principal personalidade Lutero ou a Palavra de Deus. O reformador se afana para que em suas ações a Palavra encontre vida própria. Ele reconhecia não possuir o poder da liberdade que a Palavra de Deus gozava (IITm.2:9). Provavelmente, como bem observa Colin Brown, o reformador não esperava que o uso das Escrituras tomaria dimensões tão amplas.[12]


II- A importância do “Sola Scriptura” de Lutero para nossos dias.
Lista-se abaixo, pelo menos, cinco fatores práticos que apontam à necessidade do “sola Scriptura” da Reforma, hoje:


1- Lutero inspira o cultivo de uma hermenêutica sóbria:
A hermenêutica de Lutero, respeita a Bíblia como a plena e infalível Palavra de Deus. Ela deve ser lida com respeito em seu contexto e aplicações atuais (II Tm.3:16).[13] Deve fazer um bem maior ao coração do que o faz ao intelecto (Sl 119:18,174).


O Rev. Héber Campos nos lembra que, “ os ensinos da Bíblia não são verdades que atingem meramente o intelecto, mas elas descem ao coração, fazendo com que elas se evidenciem em matéria prática de vida.”[14]


É um desafio para a igreja de hoje declarar mediante palavras e atitudes concretas a sua fé na Palavra de Deus (Jo.17:6-26), uma vez que o mundo exige dos homens cada vez mais uma atitude subjetiva.


2- A Sola Scriptura de Lutero ainda evoca nos crentes de hoje a possibilidade de discussão ( Fé/Razão) num mundo pós-moderno:
O século XVI experimentou grandes transformações. Alicerces culturais, intelectuais, políticos e religiosos estavam sob escombros. Avançar no “novo mundo Moderno” era indispensável à sobrevivência de qualquer classe ocidental européia.


Lutero introduz neste mundo de transformações a noção de que qualquer conceito de sistema, idéias ou existência humana encontram o norte se orientados pela única Verdade, que é a Bíblia. De algum modo, o dogmatismo teológico luterano convive com êxito entre a fé humanista de sua época. Não podemos também demonstrar, àqueles que se opõem à nossa fé, as bases teológicas da verdadeira sabedoria ( Hb:11:1-3; I Pe. 3:15)?


3- O conceito de Autoridade bíblica de Lutero exige-nos um releitura de nossas vidas, prática e valores cristãos:
Lutero dizia que a sua mente era prisioneira da Palavra de Deus. Logo, o reformador encontrara sua liberdade somente na obediência à Palavra de Deus. Ir contra a sua própria consciência não era seguro nem correto (Rm14:22,23).


Conforme Heber Campos, “o norte de uma reforma dentro da igreja de Deus está, inquestionavelmente, relacionado à volta aos princípios sadios de fé e prática, propostos pela Santa Escritura. A fé tem que ser fundamentada numa consciência cativa à Palavra de Deus [...].”


Somente a Palavra de Deus é capaz de iluminar os pontos escuros de nossas almas e fazer-nos abandonar nossos vícios e más condutas (At.23:1;Rom.9:1;II Cor.13:8;II Tm.3:14-17;Tg.1:22; I Pe.1:23). Alguém já disse que a Palavra que nos liberta é a mesma que nos prende.


4- A Sola Scriptura é necessária pois, comporta líderes e membros como igualmente vocacionados no dever de glorificarem somente a Deus:
Quando se tem a Palavra de Deus como a Autoridade da igreja, lideres e liderados se respeitam, pois reconhecem que suas diferenças ministeriais (At.6:1-7), conforme a Bíblia, são possíveis de ação harmônica no corpo de Cristo (I Cor. 12:1ss). Líderes são tão passíveis de admoestação na Palavra como o liderado (Gl.2:11ss).O membro é respeitado como superior à liderança, pois inspira os cuidados desta (Fl.2:3;Hb.13:17;IPe.4:5). É disciplinado (edificado, exortado) não com imposição autoritária, mas através da admoestação bíblica (Rm.12:8;I Cor.14:3; IICor. 5:20;ITm.4:13; Tt. 2:15).


Enfim, as diferenças pessoais e posições ministeriais são respeitadas, o crente é estimulado à união por uma autoridade externa à organização eclesial; isto é, a Bíblia é a autoridade. Qualquer referência a constrangimentos em sua vida particular virá por parte da Escritura exposta (Sl 19:14;At.16:30-33) e não por apontamento direto e particular de outro crente. Não é a Escritura a voz de Deus, viva e eficaz (Hb.4:12; 12: 5)? Pode um crente acusar a Bíblia de ser injusta (Sl.119:60;Pv. 30:5)?


5- A redescoberta da Sola Scriptura conduzirá à reforma da Teologia e, consequentemente, do púlpito:
Para que haja verdadeira Reforma a Palavra de Deus deve ser devidamente interpretada (II Rs. 22). A pregação da Palavra é o revelar da Vontade Soberana cumprida em Cristo e proclamada pelos crentes para a glória de Deus. Assim,ela não pode ser auto-ajuda (Pv.16:2;Is.28:29;Jr.17:9,10;Jo.15:5;IICor.3:5;ITm.1:12-16), recitar de livros teológicos ou experiências pessoais. Estas coisas têm o seu valor, mas não têm validade universal. Será que Lutero e outros reformadores teriam tamanho êxito se pregassem contra os erros ou deturpações teológicas simplesmente empunhando seus livros e conceitos teológicos (Is. 55:1, Rm.1:16)?


Para Lutero, seus sermões e conceitos de nada adiantariam se não fossem firmados sobre a Palavra Eterna. Ele ensina aos jovens pastores de sua época que, as Escrituras Sagradas não podem ser compreendidas por estudo e talento. Portanto, seu primeiro dever é começar a orar e orar com o propósito de que, se for do agrado de Deus efetuar algo para a Glória dele- não a sua glória nem de outra pessoa-, ele lhe poderá conceder graciosamente uma compreensão verdadeira de suas palavras.”[15]

Conclusão:
Há em Lutero uma demonstração de seu comprometimento para com a Palavra da Verdade. A igreja pós-moderna não necessita de fé assim ? Nossos membros não anseiam por um púlpito como o de Lutero onde são convencidos de seus erros e pecados mediante a exposição das Escrituras (At.2:37)? Autoridades constituídas não temeriam ao Deus da Bíblia (At.26:28)? “Prega a Palavra”, era a insistência de Paulo a Timóteo, que vivia as suas dificuldades tal qual qualquer obreiro ou crente hoje (II Tm4:2)!


A 'Sola Scriptura' nos vocifera que, mesmo depois de 31 de outubro de 1517, a necessidade do mundo e da igreja continua a mesma: Só as Escrituras (Is. 40:8)!
Sola Scripturae!
Pr Eliandro da Costa Cordeiro. S.P.R.C.







[1] “A minha mente é prisioneira da Palavra de Deus”, disse Lutero.
[2] HAGGLUND, B. História da Teologia, Porto Alegre: Concórdia, 1995.
[3] LUTERO, M. Nascido escravo. São Paulo: Fiel, 2001.
[4] Dizia Lutero: “A mesma pessoa é tanto “dois homens inteiros como um homem inteiro.”
[5] LUTERO, M. Luther's works . Lectures on Romans. Saint Louis; Concordia, V.5,1972, p. 302: “Desta afirmação de Agostinho se conclui que pecado original é primeiro pecado, isto é, transgressão de Adão. Pois ele interpreta a expressão “todos pecaram”com referência a algo realizado e não apenas com respeito à transmissão da culpa. Agostinho continua: “Mas se a referência é àquele homem e não ao pecado, e que todos pecaram neste homem o que poderia ser mais claro do que esta expressão”. Mas a primeira interpretação é melhor em vista do que se segue, pois mais adiante o apóstolo diz: “Porque, assim com pela desobediência de um só homem muitos foram constituídos pecadores” (v.19), e isto é o mesmo que dizer que todos pecaram no pecado deste homem (Adão). Mas, mesmo assim, a segunda interpretação pode ser dada, a saber, enquanto um homem pecou, todos os homens pecaram. Assim, em Isaías 43:26,27 “[...] apresenta as tuas razões, para que te possas justificar! Teu primeiro pai pecou [...] o que significa que não podes se r justificado porque és filho de Adão, que primeiro pecou. Portanto, és também pecador, porque és filho de um pecador; e um pecador não pode gerar algo senão a um pecador igual a ele.”
[6] HAGGLUND, B. História da Teologia. Porto Alegre: Concórdia, 1995. p. 196.
[7] HAGGLUND, B. História da Teologia. Porto Alegre: Concórdia, 1995.
[8] OLSON, R. História da teologia cristã.São Paulo:Vida, 2001. p. 395- 396.
[9] A Palavra externa é o livro. Enfatiza-se que a Bíblia é objetiva estável e exterior a nós. Por isso ela é imutável. Podemos aceitá-la ou recusá-la, mas nunca seremos capazes de modificá-la.
[10] Bíblia Sagrada, II Pe. 1:20.
[11] Muito embora, Lutero com o passar dos anos critica tenazmente o método alegórico de interpretação bíblica, ele era literal acerca das alegorias presentes no Novo Testamento. Tais alegorias deixaram de ser alegorias por se apresentarem explicitamente como tal.
[12] BROWN, C. Filosofia e Fé Cristã. São Paulo: Edições Vida Nova, 1985. p. 33.
[13] PIPER, J. O legado da alegria soberana. São Paulo: Shedd, 2005, p.117: “Estudiosos que adotam o método histórico-crítico de interpretação [...] usam vários critérios históricos para negar que certas declarações forma feitas por Jesus ou que certos milagres foram realmente realizados por ele. Mas nenhum desses historiadores afirma que estão recontando a história da Palavra encarnada por causa da inspiração do Espírito. [...] não estou dizendo que não houve ataques ao Jesus histórico, mas que o papel do Espírito não é substituir o papel do Livro, e que a verdadeira Palavra encarnada não é revelada pelo Espírito aparte da Palavra externa.”
[14] Campos, Heber Carlos.Fides Reformata: São Paulo. Janeiro-Junho, 1996. p. 45.
[15] PLASS. What Luther Says. V.1. p. 77.

Jesus: Diferença singular. [Uma análise da Excelência de Cristo em contra-ponto à fraqueza humana.

Texto: Mt: 26:31-56

Jesus age diferente quando todos os homens agem igual. Tem-se Nele a busca e o desejo pelo ser-lhe igual mediante o contraste de seu caráter e a sua vida em momentos onde a natureza humana clamaria pelo egoísmo.
Aos que amam a Teologia do Novo Testamento basta notificar que Jesus não deixa suspensas somente as almas de seus contemporâneos (Jo.10.24); os amantes desse Deus/homem também se emaranham com as suas ações (Mc.4:39-41; Jo.13: 1ss), mas o poder e a verdade de suas palavras os fazem sossegar a alma (Jo.6:41-45,61,66-71; 14:1,6,10,16-28;15:3,7,11). Cristo não se deixa analisar como um objeto epistemológico da fé humana. Ele se apresenta aos homens, de emoções, fé ou interesses alhures, como um grande paradoxo humilhador de capciosos interesses destituídos de fé (Lc.11:53,54;Jo.8:25-31;8:6;18:33-38).

Pode-se elencar duas razões para isso: primeiro, porque vive entre os homens como um completo 'deslocado', fora de lugar (Jo.1:10,11,14; 8:23,24;1518,19), um 'corpo estranho' neste mundo. É inocente, “certinho” demais para se relacionar com os homens (Lc. 19:7,10). Ele não se encaixa num perfil de um homem normal, i.é, pecador. Segundo, porque Ele é exatamente tudo o quanto os homens almejam ser e ter nesse mesmo mundo deslocador de gente perfeita (Jo. 8:7, 46; Hb.4:15). Jesus torna os “homens-santos” em pecadores (Lc. 18:23) e, os pecadores em santos (Lc. 18:13,14;Jo.5:14). Ele os torna iguais (Jo.8.6,7,10; Rm.1:24;3:23)! Cristo consegue viver esse paradoxo como só Ele o pode: de modo singular como se não possuísse duas naturezas (humana/divina).

Esse paradoxo é visto nos Evangelhos, a cada passo de Jesus. Quiçá seja isso que torna a sua oração no Getsêmani uma narrativa tão perscrutadora. Será que outro alguém, que não Jesus, conseguiria viver um dilema existencial e ontológico de modo tão simples que fosse capaz até de deixar-nos margens para a discussão acerca de sua divindade? Conforme Barth, “pra ser tão humano, só tão divino”! De modo peculiar se pode ver a singularidade de Cristo aqui, em oração. Em que momento mais alguém poderia se revelar sem as roupas da falsa virtude e bondade, senão em oração, sozinho, com Aquele que vê (Mt. 6:5-8)?
No entanto, nunca os Evangelhos mostraram um Jesus como mostra aqui. É o extremo de um homem. Está desnudo de alma, de sentimentos. Eis o momento quando mais brilha-nos a beleza de sua Pessoa ( Hb. 2:9, 10,17,18). Vê-lo sofrendo revela um pouco de suas virtudes( Hb.4:15,16). Há sobre Ele o peso dos pecados dos homens. Todas as mazelas humanas, os piores vícios de homens cruéis ou “bondosos” (Is. 53:312;64:6). Não. Jesus não teme a morte ou as dores que a precederam (Jo.14:1-3,27-31). Conforme J.C.Ryle, “ há milhares de homens que sofreram as piores torturas e morreram sem um gemido sequer; Nosso Senhor poderia naturalmente fazer o mesmo.”

Só Deus é capaz de mensurar o tamanho do pecado como sofrimento dos homens em seu Filho ( Mt.28: 43,46)!! A sua cruz é a consequência de uma vida inteira de fidelidade (Mt.4:1-11;Fl.2:8;Hb.12:2,3). Jesus assume em si toda a plenitude de Deus, bem como toda a plenitude humana (esta em todas as suas desventuras) ( Cl.2:9), impondo aos próprios ombros a responsabilidade de se ser quem se É : singularidade de se ser Deus e Homem, na obediência de só se ser Jesus (Fl.2:5-11;ITm:2:5). Ele no Getsêmani poderia agir como Deus, mas age como Homem (Mt.26:37,39). No jardim poderia agir como homem, mas nega-se a submeter o seu Ser às mazelas chafundadas de pecado humano. Mantém-se submisso aquilo que o Pai já determinara a Ele (Mt.26:53,54): morrer pelos pecados dos homens e não, viver pelos pecados desses (Mt.20:22;26: 51,52).
Este momento de oração no Getsêmani translucida quatro comportamentos de Cristo que contrastam a Sua Pessoa com a dos homens. Elenca-se nas seguintes observações:
1- Jesus não desiste daqueles que desistem Dele (31-36):Tasker salienta em seu comentário que “nesta hora extremamente crítica de sua vida terrena, o filho do homem precisou, como todo ser humano precisa, da simpatia de outros, ainda que de uns poucos (...) Ele deixa os outros e se afasta com Pedro e os filhos de Zebedeu para um ponto mais isolado (...) depois de confidenciar-lhes que o seu coração estava a ponto de partir-se de tristeza, pede-lhes que se mantenham despertos com Ele, pois nada mais que isso pode fazer para aliviar a sua dor”.

Contudo, contando com a simpatia dos discípulos, esta hora seria aquela que travaria luta solitária ( Is.63:3).Ele teria de pisar sozinho o lagar da ira de Deus.
É bom observar que, segundo o Evangelho de João, um grande número já havia abandonado a Jesus ( Jo. 6:66ss) e, além disso, o próprio Senhor falara que Pedro e outros o abandonariam ( 31-35). Ainda assim, Jesus leva Pedro e outros a orarem com Ele no monte e participarem dum momento de intimidade Dele com o Pai! Jesus sabe que eles o abandonarão e ora com eles, desnuda a alma perto desses homens revelando suas tristezas! Isto se dá em plena consciência de traição e infidelidade amical. Jesus sabe que deve sofrer e morrer completamente sozinho (v.31).O evangelista João Diz que Jesus amou esses homens até o fim (Jo.13:1)!!! Que fidelidade de Nosso Salvador àqueles que o Pai lhe deu (Jo.8:14-18,28;17:8,9,12).
Há de se observar que em Jesus se verifica uma das coisas mais difíceis do homem praticar por se tratar de algo que constitui a si mesmo. Nisto Jesus demonstra a sua completa diferença e contraste em relação aos homens, i,e, A sua Vontade não mais lhe pertence. A sua vontade é Deus!
2- Jesus procura silenciar a sua vontade na vontade do Pai (39,41,42,):Vale estudar como Cristo manifesta a sua vida de oração. Oração é, para Jesus, o silêncio da alma para o Eu e a sua abertura para o “Tua Vontade” (Sl.40:8;Mt:6:10;Jo.4:34; 5:30;6:38).
J. C. Ryle, ao comentar esta oração de Jesus afirma que “vontade sem freio e sem o influxo da graça divina, é na vida do homem fonte de desgraça.”
Jesus leva a sua vontade ao Pai. Ele a entrega. O que é vontade? Vontade é aquela unidade do indivíduo capaz de torná-lo em que se é e no por que se é quem se é. Negá-la é negar-se, anular-se.

O filósofo Sartre já definia a vontade como o homem: “o homem é pura vontade”. Ninguém decide ter vontade de se ter vontade de. Simplesmente se tem. Por sua vez, a Vontade Divina é um mistério. Primeiramente, não se escancha da soberania ou poder divino. Esta é aquela que somente Deus a conhece, uma vez que é parte constitutiva de seu Ser (Jó:42:2; Is. 46:10;Fil.2:13) Champlin nos lembra que há ainda uma 'segunda' Vontade. Esta deve ser buscada progressivamente, pois é questão de maturidade espiritual ( Rm.12:2;Ef.5:17;ITs.4:3;IPe.2:15) (Enc. Bíblia Fil., p. 687). Jesus precisou buscar e aceitar a Vontade do Pai (v.39).
Jesus manifesta na amargura do jardim que orar é entender que o Sim de Deus pode ser, muitas vezes, o seu Não e o meu Não pode ser o seu Sim (42):
Observe o progresso na oração de Jesus. Ele ora três vezes e, num processo de se procurar ouvir e executar a vontade do Pai, Ele parece já saber a resposta. Observe que Cristo nos dois primeiros momentos de oração diz “se for possível”, mas na última oração suas palavras foram: “Se não for possível passar este cálice sem que eu beba(...)”. A vontade do Pai era para Jesus momentos de angústia e sofrimento. É interessante que, neste momento, quando mais o sofrimento estrangula-lhe a alma, mais Ele intensifica a oração. Para que orar àquele que lhe promove o sofrimento? Plena consciência e confiança de que a vontade do Pai é sempre boa ( Rm. 12:2;Ef. 5:17) !
Geralmente a partícula “se” é vista na prática cristã como um espaço neutro onde o crente pode fazer o que quiser. Ela é uma possibilidade onde se vence ou concede direito que a ela recorre em favor próprio. Mas não é o caso de Jesus . Para ele, “se” é sempre vitória da Vontade divina: “se não é possível (...) faça-se a tua vontade.” O termo grego 'ei' introduz uma condição da primeira classe dada como certa.

Que contraste entre nosso Senhor para com os discípulos! Jesus os advertiu acerca de suas vontades terem de ser dominadas (41;Rm.7:21-23)! Parece bom os crentes fiéis saberem que nem todas as orações feitas com fidelidade e fé significam livramento da dor e sofrimento. Antes, podem acarretá-los, afim de que o crente intensifique ainda mais a sua intimidade com Deus. Será que Jesus não tinha fé?
III- Tem um alto conceito de amizade (49,50): ( Jo. 15)1- Amizade para Jesus não é necessariamente reciprocidade, mas amor verdadeiro por uma das partes ( amigo, a que viestes?):Considera amigo o traidor. Em v.49, Judas se aproxima e saúda a Jesus.

Isto demonstra a cordialidade que existia entre Jesus e os discípulos. Contudo, um discípulo não deveria saudar o mestre antes deste; isto era sinal de insubmissão. Mas ainda assim o mestre o chama de amigo. Por quê? Basta-nos ouvir o que Ele diz em João 15:13-15.
2- A amizade para Jesus supera fraquezas ( me negarás...):
Pascal nas Meditações diz que “Cristo estará em agonia até o fim do mundo. Durante este tempo não há de dormir. Eu pensava em ti em minha agonia: essas gotas de sangue as derramei por ti. Queres custar-me sempre gotas de sangue da minha humanidade, sem que tu derrames uma lágrima? Eu sou mais amigo teu que tal qual, porque fiz por ti mais que eles, e ele não sofrerão jamais o que sofri por ti, nunca morrerão por ti no momento de tua infidelidade e de tuas crueldades, como fiz eu e estou disposto a fazer (...).” Jesus foi acusado de ser amigo de prostitutas, ladrões ( Lc. 5:30).
No Getsêmani vemos o paradoxo de Jesus. Vemo-lo se identificar totalmente com os homens e ao mesmo tempo esta identificação mostrar o quão diferente Ele é de todos nós!!
E quando eles estavam ali sentados, Jesus lhes disse: Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; Imagine, irmãos! Jesus lhes disse: Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; Isso quer dizer que todos se tornarão infiéis. A idéia é que Jesus se tornará uma pedra de tropeço. Os discípulos querem estar longe dele, porque têm vergonha dele ou se escandalizam com ele. TODOS! Não um só, mas TODOS! Esta palavra é para todos: Nenhum deles ficará fiel. Todos se afastarão. Na mesma noite!! Imagine irmãos, que sofrimento! Saber que todos se escandalizarão, faz parte do sofrimento de Jesus Cristo. Ele sabia o que ia acontecer. E ele sabia que ficaria sozinho. Ele está com onze homens, mas nenhum deles poderá o ajudar. E como Jesus sabia disso? Jesus sabia disso, porque conhecia as profecias antigas. As profecias que falaram sobre o seu caminho doloroso. Como, por exemplo, a profecia de Zacarias 13:7. Jesus usa a profecia de Zacarias 13:7 que diz: “Ferirei o Pastor e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas”. Quer dizer: o sofrimento vem de Deus conforme esta profecia; Tudo o que acontece é conforme o plano de Deus. Isso deve acontecer! Faz parte do plano de Deus. Jesus deve passar por esta situação para que pagasse pelos pecados do povo. Jesus disse isso varias vezes aos seus discípulos: o caminho doloroso não é uma opção. É a única maneira para salvar o povo. Só assim ele podia pagar pelos pecados. O plano de Deus é assim! Ele disse isso varias vezes, mas os discípulos não entenderam esta mensagem. Especialmente Pedro não entendia essa mensagem.

Quando Jesus falou pela primeira vez sobre o seu sofrimento e a sua morte em Jerusalém. Pedro logo reagiu, reprovou Jesus e disse (Mt.16,22): Tem compaixão de ti, Senhor. Isso de modo algum te acontecerá! Naquele momento Jesus já disse a Pedro: Arreda, Satanás, Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens! O que Jesus lhe disse é interessante para saber: quem não cogita nas coisas de Deus, não entenderá Jesus e não entenderá a mensagem da cruz. Quem não cogita nas coisas de Deus, se escandalizará com Jesus. Pedro já teve este momento. E parece que ele não aprendeu muito. Ele ainda se escandaliza com Jesus, porque ele reagiu logo e disse: Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim. Pedro descobriu alguma coisa. Pedro viu alguma coisa e se escandalizou com Jesus.
Acredito que Pedro estava preparado para morrer com Jesus. Para lutar com Jesus. Não foi ele que tirou a espada (Mt.26,51)? Os discípulos queriam lutar e morrer. Mas Jesus não queria lutar. Jesus se entregou. Sem lutar. Será que Pedro entendeu isso? Pedro queria um rei e não um réu. Ele queria um vencedor e não um vencido; ele queria uma vitória e não uma derrota. Lendo a história dá a impressão que os discípulos tinham se preparados para a luta, mas não estavam preparados para uma derrota. Zacarias 13:7 diz isso literalmente: Desperta, ó espada, contra o meu pastor, que é o meu companheiro, diz o Senhor dos Exércitos. Fere o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas.

A Palavra de Deus foi uma espada contra ele mesmo. Costumeiramente, falamos de um Deus que realiza sonhos, que cumpre promessas. Experimentamos diariamente seu cuidado por nós e achamos que nisto se resume a vida cristã. Porém, os Evangelhos revelam outra faceta do caráter de Deus que muitos cristão têm tentado esquecer, ignorar: a realidade de que Deus é soberano. Diante disto, temos de nos exemplar em Jesus que demonstra o que é depender e se comprometer à soberania de Deus. O crente deve responder à sua fé uma pegunta que perturba-lhe a alma, contudo, que é fundamental no socorro às dores da vida cristã: E se Deus não fizer? E se de fato Ele fizer a Sua Vontade e não a minha?
Jesus não pensava : que seja feita a sua Vontade, desde que ela seja a minha. Ele ouviu o Pai dizer-lhe não como resposta à sua inteira vida de obediência ( Is. 49: 46; 53: 7-12). IV- Tem uma visão do instante que lhe faz viver corajosamente o futuro (39-45, 52-56):
1- A visão da morte não lhe furta o sabor (propósito) da vida:
A sua insistência em orar é demonstrativo do anelo pela vida. Jesus fala em Mt. 6. de morte de pássaros e homens diante de Deus. Trata-se de valoração existencial a qual o Mestre dá valor. Um pardal cai e morre com m valor ínfimo em relação à morte de um mendigo! Isto é tão real para Cristo que Ele obedecerá a vontade do Pai até o fim, entregando a sua vida pelos mendigos deste mundo (Lc. 19:10; Jo. 10:11-18).
(a)- Jesus na agonia do prelúdio do calvário considera amizade: 'amigo, para que vieste?' (49). Com o termo “amigo”, Jesus quer inquietar a consciência de Judas . O seu 'amigo' insinua que sabe o que Judas está fazendo e nada lhe é inesperado.
(b)- Jesus, ensina à beira da morte como se deve viver mais a vida e, por mais tempo (52). Evoca sabedoria nos atos de Pedro. Agir naquela hora seria morrer!Segundo Hendriksen, o v.55 demonstra que na passagem de seu abordamento por Judas e autoridades, Jesus ao falar às multidões, “estava na realidade fazendo-lhes um favor. Ele punha a descoberto as culpas delas. Não é verdade que se faz necessário a confissão da culpa para que se receba a salvação?”, pergunta o teólogo.
(c)- Jesus traça o seu futuro pisando os seus pés cansados no caminho que o Pai lhe abriu (54). Ele volta os olhos para a alegria do fim do percurso,conforme Hebreus: 12:2:
“ (...)olhando firmemente para o autor e consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia , e está assentado à destra do trono de Deus. Considerai (...) atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecados contra si mesmo, para que não vos fatigueis desmaiando em vossa alma” (cf. tb. Hb. 5: 5-10).
Jesus não apela ao Poder de Deus para proteger-se. Ele apela para a vontade de Deus (53,54). O Senhor Jesus pouco antes da morte, na agonia divina, sete prazer em prometer estar com um ladrão que lhe roga misericórdia na cruz (Lc. 23:43). É a alegria dos outros a sua alegria!

2- Jesus se assegura do que é não fazendo o que se espera do homem: agir com o poder que tem (52,53): O poder de Cristo é a amor! Foi com este amor que buscou novamente a Pedro (João 21:15ss), os que lhe abandonaram (56),. Jesus luta sem armas, sem resistências, sem religião, sem amigos, sozinho (desamparado de sua própria vontade, pois essa Ele, há pouco, entregou a Deus).
3- Para Jesus, instante de agonia é parte do futuro glorioso (53): Aqueles instantes de dores, decepções, solidão não era, para Jesus, momento de desafeto ou abandono divino. Ele pode orar e o Pai auxiliar, mas isso não seria viver o instante eterno de glória, antes e depois da cruz (Mt:4:1ss)! Agostinho de Hipona vocifera aos crente em angústias que “Deus só teve um Filho que não pecou, mas não teve um filho que não sofreu”.
Ver o meu futuro com fé não desconsidera o meu presente com fidelidade ao propósito de Deus! Não desconsidera que o tempo presente , com seus dessabores é fundamental para a aperolação do deleite da presença de Cristo nos Céus ( Rm. 8:18-25; Fil. 1:21). Jesus vive cada momento de seu instante de vida na terra como se fora o seu futuro e vive o seu futuro como certo de já o tê-lo presente (Mt.26:26 - 30). Hendriksen lembra que “O Evangelho de João (...) faz perfeitamente claro que antes de permitir que fosse ele (Jesus) preso, Jesus demonstrou seu poder sobre seus captores, comprovando que voluntariamente se rendera a eles, em harmonia com João 10:11b, 15.b. Nessa captura, foi o Cativo quem triunfou!” Que bela maneira de entender o que é ser vitorioso, tinha Jesus! A verdadeira vitória é alcançar êxito no cumprimento da vontade do Pai.


Conclusão:Jesus se comporta diferente dos homens! Seus valores são nobres, seu Ser puro. A sua vida sufoca a morte até na hora de morrer. A morte é derrotada matando a Cristo, pois a morte faz parte do plano eterno de Deus Pai. Não foi sem menos que o Senhor Jesus rende o seu espírito ao Pai, mesmo depois de dizer-se abandonado por Ele. E isso, devido os pecados dos homens lançados sobre Ele (Mt.27:46,50).

Mesmo neste momento de agonizar a vergonha, Jesus dedica-se a Deus, confia-lhe o espírito. Não é mesmo singular o Senhor Jesus? Não é mesmo diferente dos homens? Que exemplo temos nós nas ações e coração do Salvador ( I Pe. 2:21- 25 [21]): “ Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes o seus passos,”).


Solo Crhisto

Eliandro cordeiro

SPR-Cne