sábado, 24 de dezembro de 2011

“Mas eu não me recusei a ser pastor, seguindo-te [...].”





                                        




                  Reflexão aos Formandos em Teologia 2011 do SPR-Cne.Texto: Jer.17:14-20 [16].


Ser pastor não é profissão, é chamado, vocação, ‘missão’. Tanto assim que, Moody parafraseou este texto como: “Eu não abandonei a missão que tu me destes [...]” e, outras versões simplesmente dizem: “mas eu não desejei o dia mau [...]”, reforçando ainda mais a missão pastoral como aquela que se coaduna à realidade/contexto das ovelhas.

Jeremias é-nos sempre apresentado como o profeta. Todavia, nesta confissão, ele se-nos- apresenta como “pastor”. Mesmo diante da desobediência do povo e as dificuldades do pastoreio, este pastor não se acovardou (John Skinner denomina, neste capítulo, as ações de Jeremias como “Confissões do profeta”, pois se trata da vida íntima deste homem (Jeremias: profecia e religião, pp.193ss). A sua tristeza pela realidade a qual o pecado de Israel levara o povo, leva o pastor/profeta a externar o seu compromisso com Deus de forma expressiva no cuidado para com Israel. Este precisa de um profeta para apontar-lhe os erros e o caminho de obediência a Deus, necessita de um pastor amoroso que lhes conduza neste mesmo percurso, curando as feridas e alimentando-a de fé e esperança.

Deste modo, temos em Jeremias um profeta necessário a uma nação que se perdeu no caminho, cujo coração de carne empedernira. É ele o bisturi de Deus que promoverá um “transplante”de coração na nação endurecida pelo pecado . Doutra forma, temos em Jeremias um profeta capaz de, na hora da dor de seu povo, encarnar a sua natureza e razão de ser (Jr.1:5): É pastor.

Na natureza e razão de ser de Jeremias, as atitudes e comportamentos pastorais ditam o modelo ministerial esperado por Deus:
1- O pastorado deve ser a manifestação da Palavra do Senhor (16):
As autoridades religiosas esperavam de Jeremias algum sinal de conhecimento futuro capaz de autenticar a sua razão de profetizar. A única manifestação deste homem fora a de doer sob a ação de Deus junto ao povo. Ele “aceitou” ser pastor.

2- Ser pastor deve ser a referência do caminho para a vontade divina (19):
“Não estava no coração de Jeremias regozijar-se diante do sofrimento humano.” (Champlin)
V.21: Demonstrativo do interesse dos homens. A ênfase no comércio implica apontar a quebra do sábado visando o lucro perdido se parar neste dia para o culto a Deus. Jeremias deve ensinar que “nem só de pão o homem viverá”.
A esperança de dias melhores nas palavras deste pastor não era a de riqueza e prosperidade terrenas, mas de pacto eterno com o Deus da História (Jr.31).

3- Ser pastor é sinônimo de persistência e fé na fidelidade de Deus (19-):
Não espera a confirmação do pastorado ou do sucesso da mensagem, mas o faz pela obediência à Palavra divina. Não é o que enseja nosso Senhor Jesus quando diz: “Quem tem posto a mão no arado não pode mais olhar para trás”? Têm-se, aqui, o privilégio e o prazer de se ver proibido de olhar para trás (Lc.9: 62).

O profeta, sabedor das agruras do ministério, refugia-se em Deus, a sua proteção (v.17). Ele se põe à caminhada da fé com os homens de Israel: “seguindo-te”. Ele segue a Deus também, ou seja, pisa o pó da obediência e em nada se difere dos demais homens da nação de Israel. O pastor Jeremias se vê como aquele que também deve seguir a Deus. Ele não se exclui do dever da obediência. Sabe que a vida é um "seguindo-te". Assim, o pastor só é pastor se estiver "no caminho" com o povo seguindo a Deus.

Jeremias distingue bem o seu chamado quando é capaz de unir a noção de profeta à de pastor. Se o profeta é aquele que, pelo poder de Deus, utiliza-se dos exemplos do passado e revela o seu cumprimento no futuro, o pastor é aquele que, entre o passado e o futuro (i,é:presente), fortalece e cuida do crente. Tal cuidado é pleno de esperança e companheirismo.
O pastor tem a ousadia do profeta, pois, depende absolutamente da soberania de Deus para o cumprimento de sua mensagem; o pastor tem o coração de pastor; isto é, tem a missão de andar com o povo e sentir-lhe as dores oriundas de seus próprios erros.
Ele no final ainda diz em confissão a Deus: “eu não recusei a ser pastor [...] seguindo-te [...].”


Sola Gratia.
Eliandro Cordeiro

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